A COVID-19 é decorrente da contaminação por uma nova cepa de vírus Coronavírus (2019 n-CoV) que origina a SARS-CoV-2, ou em português, Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) (1).
As vias de contágio são bem amplas, sendo a mais comum a transmissão direta através de gotículas de saliva expelidas por meio da fala, espirro ou tosse, catarro, contato pessoal como aperto de mão e ainda contato com superfícies contaminadas (BRASIL, 2020). A expressão sintomática é bem variável, contudo, os estudos apontam que os sintomas mais recorrentes são a presença de febre, tosse, dispneia, e em casos mais graves, síndrome respiratória aguda grave (SRAG) com choque (2).
A subnutrição em pacientes com COVID-19 pode ser favorecida pela conjuntura que envolve esta patologia, a qual é caracterizada pela necessidade do isolamento, o qual impede que os pacientes sejam auxiliados pelos acompanhantes e pela alta taxa de contágio, que corrobora para sobrecarrega dos serviços hospitalares e impede que os profissionais de saúde disponham de tempo para auxiliar os indivíduos mais debilitados durante a ingestão alimentar (3).
Os estudos pioneiros de caracterização e acompanhamento dos pacientes contaminados pelo SARS demonstraram que a presença de hipoxemia, dispneia, taquicardia, febre, tosse, dores musculares, fadiga, cefaleia, diarreia, produção de expectoração, hemoptise, perda de apetite, comprometimento do olfato e paladar são as principais manifestações desta enfermidade, que contribuem significativamente para aumentar o risco de desidratação e desnutrição (4,5).
A febre é um dos principais sintomas presentes nos quadros acometidos pelo novo coronavírus. Os estudos indicam variações de temperatura corporal entre 37,1 ºC e 38,5 ºC (3). A pirexia aumenta a demanda hídrica do enfermo, a cada 1ºC deve-se repor 3-5ml da água/kg de peso corporéo do paciente (6). A elevação da temperatura corporal também constitui fator de interferência no gasto energético total, a cada elevação de 1ºC na temperatura corporal, repercute no incremento de 10 % no gasto energético (6). A febre em indivíduos com COVID-19 também foi associada positivamente ao desenvolvimento de anosmia, a qual contribui para a redução do apetite. Distúrbios no paladar e olfato relatados pelos pacientes contaminados pelo SARS-Cov-2 (5) corroboram para a redução de apetite e consequentemente a diminuição da ingestão alimentar, favorecendo a desnutrição.
No tratamento nutricional da COVID 19, deve ser priorizada a oferta da alimentação via oral utilizando de estratégias nutricionais que favoreçam a ingestão alimentar e o adequado aporte nutricional como a oferta da dieta na consistência branda ou pastosa, constituída de alimentos com elevado teor calórico e nutricional (3).
Ou seja, é importante que as refeições sejam de fácil mastigação e deglutição, como purês, carne moida, frango desfiado, vegetais cozidos, cremes, arroz bem cozido ou como papa e vitamina de frutas. A frequência das refeições deve ser regular, com uma média de 4 a 6 refeições por dia, evitando longos períodos em jejum.
Pode usar suplementação durante a COVID19?
A oferta de suplementação de micronutrientes é recomendada em casos de deficiência (7), visto que a presença da mesma agrava as infecções virais (3). Análise realizada por Zhang et. al. (2020) sob os dados epidemiológicos das províncias chinesas encontrou associação positiva entre a deficiência de selênio e a morbimortalidade pelo coronavírus, assim como entre os níveis adequados de selênio e os índices de recuperação da COVID-19.
Há estudos que indicam que a suplementação de alguns nutrientes podem atuar positivamente como imunomoduladores (9,10,12). A administração de ômega-3 pode contribuir reduzindo a resposta inflamatória excessiva, através da diminuição da produção de citocinas pró inflamatórias, como IL-6 e TNF-alfa (9). Ademais, o ômega 3 pode estimular a regeneração epitelial e assim atenuar a lesão pulmonar, minimizar a taxa de infecção, a insuficiência respiratória e a sepse (11).
A suplementação de flavonoides, polifenóis e vitamina C também podem contribuir positivamente no tratamento da COVID-19, visto que atuam como agentes protetores em situações de infecções pulmonares. Além do que, em quadros de infecções geralmente ocorre a diminuição das taxas séricas de vitamina C, o que inclusive justificaria a necessidade de fornecer um maior aporte (9). A suplementação de vitamina C tem mostrado resultados satisfatórios em estudos clínicos, sendo fomentada por alguns estudiosos do National Institutes of Health a possibilidade da oferta de 1,5g/kg de peso corporal, visto que esta é uma dosagem segura e que não apresenta efeitos colaterais (12).
Alguns estudos também sugerem a oferta de vitamina D3 associada à magnésio e cálcio, devido esta estratégia ter mostrado resultados satisfatórios quanto à imunomodulação e tratamento de doenças do trato respiratório. A vitamina D tem propriedades de modulação da imunidade celular, adaptativa e inata, além da função antioxidante e de barreira física, que fortalece as junções epiteliais. Desta forma, contribuiria também para minimizar o risco de infecção e reduzir a disseminação da doença (10).
A COVID-19 impacta diretamente a nutrição, e uma alimentação adequada pode acelerar a recuperação, fortalecer o sistema imunológico e minimizar sequelas. Se você está ou teve COVID-19 e percebeu mudanças no seu apetite, metabolismo ou energia, contar com um nutricionista pode fazer toda a diferença.
Referências:
2. MORALES, A.J.R. et al. Características clínicas, laboratoriais e de imagem do COVID-19: revisão sistemática e metanálise. Medicina de Viagem e Doenças Infecciosas. Elseve. Disponível online. Março de 2020, 101623. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1477893920300910?via%3Dihub#bib1. acesso em: 18 de Abril de 2020 às 20:29.
3. CACCIALANZA, R. et al.Early nutritional supplementation in non-critically ill patients hospitalized for the 2019 novel coronavirus disease (COVID-19): Rationale and feasibility of a shared pragmatic protocol. Nutrition,Vol.13. Juno de 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0899900720301180?via%3Dihub. Acesso em:30/05/2020 ás 15:17.
4. DE LORENZO R, CONTE C, LANZANI C, BENEDETTI F, ROVERI L, MAZZA MG, et al. (2020) Dano clínico residual após COVID-19: Um estudo de coorte observacional retrospectivo e prospectivo. PLoS ONE 15 (10): e0239570. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0239570.1371/journal.pone.0239570
5. LECHIEN, JR, CHIESA-ESTOMBA, CM, DE SIATI, DR et al. Disfunções olfativas e gustativas como apresentação clínica das formas leve a moderada da doença coronavírus (COVID-19): um estudo europeu multicêntrico. Eur Arch Otorhinolaryngol 277, 2251–2261 (2020). https://doi.org/10.1007/s00405-020-05965-1
6. KAIYING Y, HANPING S. Interpretation of "Expert Recommendations on Medical Nutrition Therapy for Patients with New Coronavirus Pneumonia" [J]. Chinese Medical Journal, 2020,100 (10): 724-728. DOI: 10.3760 / cma.j .cn112137-20200205-00196
7. POMAR MDB, LESMES IB, Nutricion Cl´ınica en tiempos de COVID-19, Endocrinolog´ıa, Diabetes y Nutricion´ (2020), doi: https://doi.org/10.1016/j.endinu.2020.05.001 Acesso em: 23 de Novembro de 2020 as 16:12.
8. ZHANG, J., TAYLOR, E.W., BENNETT, K., SAAD, R., RAYMAN, M.P. Association between regional selenium status and reported outcome of COVID-19 cases in China. The American Journal of Clinical Nutrition, Volume 111, Issue 6, 28 de abril de 2020, Pages 1297–1299. Disponível em: https://academic.oup.com/ajcn/article/111/6/1297/5826147. Acessado em: 27 de janeiro de 2021 às 15:10
9.MESSINA G, POLITO R, MONDA V, CIPOLLONI.L, DI NUNO N. et. al. Functional Role of Dietary Intervention to Improve the Outcome of COVID-19: A Hypothesis of Work. Int. J. Mol. Sci. 2020, 21, 3104; doi:10.3390/ijms21093104 Acesso em: Acesso em: 27 de Março de 2020 às 17:14
10. GRANT WB, LAHORE H, MCDONNELL SL, BAGGERLY CA, FRENCH CB.ALIANO JL, BHATTOA. Evidence that Vitamin D Supplementation Could Reduce Risk of Influenza and COVID-19 Infections and Deaths. Nutrients. 2020, 12, 988; doi:10.3390/nu12040988 Acesso em: 22 de Novembro de 2020 as 20:15
11. TORRINHAS, R.S.,CALDER, PC.,LEMOS, G.O.,WAITZBERG, D.L. Physician , Parenteral fish oil, an adjuvant pharmacotherapy for COVID-19?, Nutrition (2020), doi: https://doi.org/10.1016/j.nut.2020.110900. Acesso em: 28 de janeiro de 2021 às 13:38.
12. CHENG, R.Z. A dose intravenosa precoce e alta de vitamina C pode prevenir e tratar a doença coronavírus 2019 (COVID-19)? Medicina na descoberta de drogas. Volume 5, março de 2020, 100028. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2590098620300154#bb0095. Acesso em: 27 de janeiro de 2021 às 20:00.